sábado, 22 de março de 2008

DILEMA


O telegrafista saiu às 5 horas, embora ainda tivesse muito que organizar na sua sala. Inúmeros telegramas para expedir e todo o caixa para conferir e encerrar. Além disso, seu horário só terminaria às 7 horas . Estava se ausentando sem o conhecimento e consentimento de seu chefe.
Vestia uma camisa azul com o emblema da repartição, seu uniforme obrigatório e carregava uma pasta que continha alguns telegramas e uma arma. Tinha que tirar algumas dúvidas (ou já eram quase certezas?) que surgiram ao receber um telegrama endereçado para sua mulher, marcando um encontro num lugar que ele sabia bem a reputação que tinha e o fim a que se destinava.
Sua maior preocupação era tirar tudo a limpo. Não queria cometer injustiça
e para tanto, não iria de imediato tomar nenhuma atitude violenta, precipitada da qual poderia se arrepender. Afinal, tinha filhos. Amava-os. Também amava Lídia e acreditava-se amado por ela.
Estava nervoso. Nunca tinha passado por situação semelhante. Sentia-se agredido, o que considerava um sentimento natural para a ocasião. Afinal, sempre fora bom marido, bom pai.
Encontrou-se com o emitente da mensagem, que vinha do consultório em direção ao local indicado, e cuja idéia, certamente, era encontrar-se com Lídia.
Depois de cumprimentar interpelou o indivíduo, de quem só sabia o nome e a profissão, pelo que ouvira falar pela boca do povo do lugar. A idéia era segui-lo sem ser visto, mas não se conteve, tal era deu estado de excitação e descontrole.
Depois de discutirem o caso, decidiram que tudo não passava de um mal entendido, pois na realidade, Lídia estava muito enferma, não desejava que ninguém soubesse, por isto não iria ao consultório. Havia pedido ao médico que a encontrasse em outro lugar, por isto o telegrama dele. Desejava mostrar-lhe uns exames que tinha em mãos.
Ao invés de sentir-se aliviado, sentia-se mais perturbado.